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Mensagem: Um século de solidão Manoel Hygino Somente agora tenho acesso ao discurso pronunciado em 8 de dezembro de 1982, por García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura, na Sala de Concertos de Estocolmo, Suécia. O interessante é que o grande escritor, às vezes ferindo o protocolo, exteriorizou uma profunda crítica aos europeus que colonizaram a América Latina, diante do rei Carlos XVI e da rainha, a brasileira Silvia. Ele não se constrangeu ou temeu ao abrir o verbo diante do mundo. Em determinado trecho, afirmou: “talvez a Europa venerável fosse mais compreensiva se tratasse de nos ver em seu próprio passado. Se recordasse que Londres precisou de 300 anos para construir a sua primeira muralha e de outros 300 para ter um bispo, que Roma se debateu nas trevas da incerteza durante vinte séculos até que um rei etrusco a implantasse na história e que, em pleno século 16, os pacíficos suíços de hoje, que nos deleitam com seus queijos mansos e seus relógios impávidos, ensanguentassem a Europa com seus mercenários”. Em trecho adiante, declarou: “a solidariedade com os nossos sonhos não nos fará sentir menos solitários, enquanto não se concretize com atos de respaldo legítimo aos povos que assumem a ilusão de ter uma vida própria na divisão do mundo”. Explica-se: “a América Latina não quer e nem tem porque ser um peão sem rumo ou decisão, nem tem nada de quimérico para que seus desígnios de independência e originalidade se convertam em uma aspiração ocidental”. À medida que evolui para o encerramento de sua ardente fala, o autor de “Cem anos de solidão” cresce na contundência acusativa ao colonizador: “Por que pensar que a justiça social que os europeus desenvolvidos tratam de impor em seus países não pode ser também um objetivo latino-americano, com métodos distintos e em condições diferentes? Não: a violência e a dor desmedida da nossa história são o resultado de injustiças seculares e amarguras sem conta, e não uma confabulação urdida a três mil léguas da nossa casa. Mas muitos dirigentes e pensadores europeus acreditaram nisso, com o infantilismo dos avós que esqueceram as loucuras frutíferas de sua juventude, como se não fosse possível outro destino além de viver à mercê dos dois grandes donos do mundo. Este é, amigos, o tamanho da nossa solidão”.
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