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Mensagem: Envelhecer tem suas vantagens. A maior delas é que o medo passa a ser apenas um fantasma escondido nas cortinas do passado. Não há nada mais a temer, senão a morte. Em mim, particularmente, ando mais destemido que Lampião diante das volantes, capaz de mastigar cactos para matar sede e fome, nas trincheiras cavadas neste terreno sáfaro de uma existência que ruma ao seu ocaso. Se nao tenho carabinas ou punhais, sou municiado de paz espiritual, haurida numa vida sem grandes aventuras e nada espetacular, ciente do que sou, no caso, um ser a caminho do nada, rumo ao esquecimento, que a todos cinge com seu fecho do tempo, eternamente. Isto me fortalece, afinal a liberdade agora se apresenta plena e cheia de si- sem o dever de prestar contas,face ao desapreço à opinião pública , fardo que a nobreza exige dos relacionamentos sociais. O tempo que resta é só meu, para meu uso e gozo. Não por este egoísmo dos que buscam seu lugar ao sol, tão comum na mocidade, mas ao contrário, de não se desejar nada além do ócio usufruído em “ dolce far niente”, em contraposição ao “ savoir- faire” das relações mundanas, exigido dos que se acham construtores do mundo e giram sua roda. Se não quero ir a algum lugar ou evento, simplesmente não vou, malgrado os convites generosos que chegam. Peço desculpas, inventando um pretexto qualquer. Também não guardo o melhor vinho para uma data especial- nunca se sabe se o sol nos testemunhará na manhã seguinte. Ainda na ativa nas minhas funções judicantes, mas sem a pretensão de converter os jurisdicionados à luz da razão, desviando-os das querelas inúteis. Afinal, sei que se acham todos com significativo quinhão de bom senso, prescindindo de meus conselhos. Então, a força da sentença dita as regras, como tem que ser. Cada dia mais admirador de Voltaire, só desejo cultivar meu jardim, deixando aos contemporâneos os embates da vida, sempre os mesmos em todas as gerações. Se hoje divirjo e brigo até, é apenas pelo gosto à liberdade, de modo deletério, ciente que o resultado prescinde de minhas ações e que no final do embate o vencedor terá batatas por prêmio, como disse o eterno Machado de Assis. Sim, guardei a fé, mas para meu consolo somente. Espero que os outros também possam usufruir desse emplastro que, se não resolve a dor de existir, ao menos a alivia, o que acho razoável e suficiente. No mais, que cada um leve sua cruz em paz, de bom grado. Logo ela será tirada de todos, num eterno descanso que merecemos.
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