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Mensagem: CABELOS BRANCOS Isaías Caldeira Veloso Meus amigos têm cabelos brancos. Tingidos de neve pelos anos. Dizem “não os pinto”, como se a tinta fosse um capitis diminutio, uma desonra ao que são, ou se pretendem: machos alfas em seus haréns monogâmicos, onde, sob juramento de fidelidade eterna às amadas, acham-se na obrigação de envelhecerem juntos, eles e elas. Mesmo que estas - as amadas - se artificializem em plásticas, cílios e tintas. Eu, não! Só tinjo os cabelos, porque tudo é falso. Cecília Meireles já me libertou - desde os dezessete anos, quando li sua obra poética - da escravidão à opinião alheia sobre o que somos. E Cecília o fez com estes versos, que cito de memória: “… que importa estes cabelos e este rosto, se tudo é tinta, a vida, o contentamento, o desgosto”. Chico Xavier, que se sabia atemporal e eterno, recomendava que os feios buscassem artifícios que minorassem seus aspectos, onde incluía, com seu exemplo pessoal, uma indefectível peruca e alguma maquiagem. Sim. Sei que um velho conservado não deixa de ser um velho. Uma velha com um colar de esmeraldas não esconde a pele flácida do pescoço. Mas, não fazemos essas coisas para enganar ninguém. Fazemos por nós mesmos, para nossos espelhos de todos os dias. Se nos sentirmos jovens, assim estaremos, embora não o sejamos. Doce ilusão! Breves serão nossos dias, afirma o Eclesiastes. Vanitas, vanitas! Tudo vaidades! Um oleiro nos aguarda, indiferente ao que fomos. Barro adiado, criamos adornos efêmeros num corpo volátil como um fumo, que será disperso, numa amanhã impossível. Entretanto, insisto em negar o espelho. E, assim, maquio a face com a ilusão de mentir o que sou. Mesmo certo que desfilo desnudo aos olhos dos meus contemporâneos, fartos de enganos. Um homem que recusa o tempo, paga pelo tempo que tem. Não nego nada. Mas, acinzento tudo, reconheço. E vou distribuindo as moedas da ilusão pelos caminhos, sem grandes pretensões. Mas, afirmo-me como sou: quase um velho. Mas, sempre cheio de vontade e potência! Que outros se entreguem ao tempo e suas ruínas. Meus martelos, com acrescentada força, vão me afirmando como ser, enquanto mascaro esses desenhos feitos pelo tempo. Ainda que o espelho diga ´não´, certificando as rugas, uma a uma, neste mapa que é meu corpo, que é meu mundo. Não engano ninguém. Iludo-me, somente. Uma ilusão a mais, neste mundo mágico! Sim, somos todos ilusionistas de nós mesmos!
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