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montesclaros.com - Ano 25 - quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
 

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Mensagem: ´Com a frente fria se aproximando, já dá para antever quais serão as seguintes noites mais frias em M. Claros: amanhecer de domingo (12 graus), amanhecer de segunda (10 graus); 11 e 12 graus, terça e quarta. As máximas seguirão entre 26 e 28 graus Sábado 31/07/21 - 8h12´ Bem, está posto: esperaremos por um frio medonho por 2, 3, talvez 4 noites, não sei quantas. Frio, como todo frio. Mas, mediante tanta excitação, frio superior desta vez, mas que não será maior. Por sortilégios, irrompe poesia, sem avisos, quando o esperado é o frio... Eu a sirvo, antes do frio, pois a Noite, toda noite - ´ vem sozinha, solene, com as mãos caídas´ -, precisa ser superior ao frio. Ainda mais noite pingada/escorrida de filósofo raro, que também fazia, faz versos. Fez O Guardador de Rebanhos, cuja cômoda alta vimos. Desventrou o Mar Português, muito além do Bojador. Altíssimo poeta. Ao encontro de quem, certa vez fomos certa vez, num elétrico; e o encontramos jogando Pedrinhas na soleira, na porta de casa, no Campo de Ourique. Jogava pedrinhas...com o Menino Jesus. E o guarda da porta, por 10 minutos, intransigente, pretendeu devolver-nos ao Brasil, a nado - para nunca mais... Ao poeta, antes das vindouras noites frias, num dos seus disfarces de fingidor: (Talvez o mesmo que veio do Tibete com A Voz do Silêncio - e isto será mencionado abaixo, oculto. Trouxe é certo, dos Himalaias brumosos, onde nunca foi, e se foi jamais voltou. Lá, onde ´Cristo talvez ainda hoje viva´, ainda dirá, abaixo.) Fernando António Nogueira Pessoa: Ode à noite Vem, Noite antiquíssima e idêntica, Noite Rainha nascida destronada, Noite igual por dentro ao silêncio, Noite Com as estrelas lantejoulas rápidas No teu vestido franjado de Infinito. Vem, vagamente, Vem, levemente, Vem sozinha, solene, com as mãos caídas Ao teu lado, vem E traz os montes longínquos para o pé das árvores próximas, Funde num campo teu todos os campos que vejo, Faz da montanha um bloco só do teu corpo, Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo, Todas as estradas que a sobem, Todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe. Todas as casas brancas e com fumo entre as árvores, E deixa só uma luz e outra luz e mais outra, Na distância imprecisa e vagamente perturbadora, Na distância subitamente impossível de percorrer. Nossa Senhora Das coisas impossíveis que procuramos em vão, Dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela, Dos propósitos que nos acariciam Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto, E que doem por sabermos que nunca os realizaremos... Vem, e embala-nos, Vem e afaga-nos. Beija-nos silenciosamente na fronte, Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam Senão por uma diferença na alma. E um vago soluço partindo melodiosamente Do antiquíssimo de nós Onde têm raiz todas essas árvores de maravilha Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida. Vem soleníssima, Soleníssima e cheia De uma oculta vontade de soluçar, Talvez porque a alma é grande e a vida pequena, E todos os gestos não saem do nosso corpo E só alcançamos onde o nosso braço chega, E só vemos até onde chega o nosso olhar. Vem, dolorosa, Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos, Turris-Eburnea das Tristezas dos Desprezados, Mão fresca sobre a testa em febre dos humildes, Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados. Vem, lá do fundo Do horizonte lívido, Vem e arranca-me Do solo de angústia e de inutilidade Onde vicejo. Apanha-me do meu solo, malmequer esquecido, Folha a folha lê em mim não sei que sina E desfolha-me para teu agrado, Para teu agrado silencioso e fresco. Uma folha de mim lança para o Norte, Onde estão as cidades de Hoje que eu tanto amei; Outra folha de mim lança para o Sul, Onde estão os mares que os Navegadores abriram; Outra folha minha atira ao Ocidente, Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o Futuro, Que eu sem conhecer adoro; E a outra, as outras, o resto de mim Atira ao Oriente, Ao Oriente donde vem tudo, o dia e a fé, Ao Oriente pomposo e fanático e quente, Ao Oriente excessivo que eu nunca verei, Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta, Ao Oriente que tudo o que nós não temos, Que tudo o que nós não somos, Ao Oriente onde — quem sabe? — Cristo talvez ainda hoje viva, Onde Deus talvez exista realmente e mandando tudo... Vem sobre os mares, Sobre os mares maiores, Sobre os mares sem horizontes precisos, Vem e passa a mão pelo dorso da fera, E acalma-o misteriosamente, Ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito! Vem, cuidadosa, Vem, maternal, Pé ante pé enfermeira antiquíssima, que te sentaste À cabeceira dos deuses das fés já perdidas, E que viste nascer Jeová e Júpiter, E sorriste porque tudo te é falso é inútil. Vem, Noite silenciosa e extática, Vem envolver na noite manto branco O meu coração... Serenamente como uma brisa na tarde leve, Tranquilamente com um gesto materno afagando. Com as estrelas luzindo nas tuas mãos E a lua máscara misteriosa sobre a tua face. Todos os sons soam de outra maneira Quando tu vens. Quando tu entras baixam todas as vozes, Ninguém te vê entrar. Ninguém sabe quando entraste, Senão de repente, vendo que tudo se recolhe, Que tudo perde as arestas e as cores, E que no alto céu ainda claramente azul Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem. A lua começa a ser real. Álvaro de Campos

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