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montesclaros.com - Ano 25 - quarta-feira, 2 de outubro de 2024
 

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Mensagem: Personagem fugidio de um livro Alberto Sena Ele nos remete à lembrança de Quasimodo, personagem do livro Notre-Dame de Paris, do principal representante do Romantismo literário francês, Victor-Marie Hugo (1802-1885). Ou senão, ele nos lembra personagem fugidio do surrealismo do colombiano Gabriel Garcia Marques, no livro Cem Anos de Solidão, no qual o Prêmio Nobel de Literatura mergulha fundo no universo da imaginária Macondo. Esse cidadão grãomogolense seria facilmente confundido como alguém da gênese da aldeia tecida e bordada, com intrincado esmero, por Garcia Marques. “Essa figura impoluta”, expressão do bon vivant Fernando Gontijo, nos seus melhores anos, em Montes Claros, possui memória comparável a do elefante. Só falta lembrar a árvore genealógica do interlocutor. O que ele tem por fora esconde a beleza interior, o diamante verdadeiro, cobiçado por garimpeiros e encontrado no garimpo do intelecto. Ele é pequeno. E como toda gente pequena, é homem esperto, porque respira camada telúrica de ar mais baixa. Ágil aos 83 anos de idade. A silhueta dele, a maneira de ser, o fato de ele trabalhar diariamente na Rua Cristiano Rello, em Grão-Mogol, negócio próprio, tudo nele e dele lembra personagem de algum romance da literatura universal. Um jagunço de livros como Os Sertões, de Euclides da Cunha; ou Grande Sertão Veredas, de João Guimarães Rosa. A fama dele corre toda Grão-Mogol e região. Ele é conhecido da intelectualidade montes-clarense. As pessoas o têm como “verdadeira enciclopédia”. Com memória privilegiada, nos escaninhos dela, ele guarda boa parte da história de Grão-Mogol, de acontecimentos, de casos relacionados com o povo. Conheci-o, recentemente, por intermédio do amigo, sociólogo e economista Lúcio Bemquerer, que deu de voltar para Grão-Mogol, onde fez enorme presépio a céu aberto, com recursos próprios, depois de ausentar 20 anos da cidade. Já tinha ciência da sapiência dele e Lúcio avisou-me que ia dar nele “um susto”, enquanto hirto ele se mantinha sentado no batente daquela casa secular onde fica a loja dele de secos e molhados, mais molhados do que secos, contigua ao bar do Tone. De cabeça baixa, entre as pernas, ele tinha um livro aberto e parecia absorto na leitura. Se o telhado desabasse naquele momento, ele seria capaz de manter-se naquela mesma posição, e lendo. Aproximamo-nos dele e ele nem percebeu. Lúcio entrou de supetão porta adentro e foi então que ele se levantou num salto para ver quem ali entrara apressadamente. Ao perceber de quem se tratava a fisionomia dele se abriu num largo sorriso. E, então, ele abraçou o amigo. Lúcio apresentou-me a Bicalho. Logo os dois entabularam conversa animada por alguns instantes. Pelo menos naquele momento, ali na bela, poética e ao mesmo tempo intrincada Rua Cristiano Rello, ele parecia feliz da vida. A Rua Cristiano Rello é fechada ao trânsito de carros. As pessoas se sentam à porta dos bares ou transitam livremente, como os belo-horizontinos na Savassi; como os montes-clarenses na Rua Simeão Ribeiro; como os curitibanos no Batel; como os ingleses no Soho. Os casarões coloniais da Rua Cristiano Rello têm portas e janelas coloridas. E em cada porta e em cada janela há marcas indeléveis, que só a memória privilegiada desse pequeno grande homem guarda. Ele deixou o livro de lado, e a boca pequena, confidenciou algo ao Lúcio. Pouco depois, Bicalho olhou na minha direção com os olhos miúdos, duas testemunhas oculares de acontecimentos históricos de Grão-Mogol – ex-Comarca de várias cidades circunvizinhas, a qual pertenceu Montes Claros – e disparou: _ Você é nascido onde? _ Montes Claros. _ De qual família? _ Sena Batista – respondi. _ Então, você é irmão de Waldyr?! Ele perguntou e ato contínuo deu-me um abraço. As pupilas dos meus olhos viram Antônio Pádua Bicalho assim, conforme descrito aqui, figura encantada, que Grão-Mogol venera. Outros personagens importantes Grão-Mogol possui, como Geraldo Ramos Frois, mestre da cultura e botânico responsável pelo viveiro de mudas da cidade. Mas é preciso dispor de mais tempo, e com mais vagar, extrair do garimpo intelectual dessa gente grãomogolense, os diamantes carreados por aluvião da existência humana; da vida benfazeja, às vezes sofrida, mas também feita de momentos felizes, inesquecíveis.

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