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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Dona ‘Negrinha’ Alberto Sena Algumas vezes exaltamos, aqui, o quanto a casa da Rua Marechal Deodoro, em Montes Claros, foi importante para nós, irmãos e primos. Quem exercita a boa memória vai se recordar de que as primas Magela Sena Almeida e Berenice (Nice) Fialho Vasconcelos também se referiram àquela casa como ‘um lugar importante em minha vida’. Nem tanto a casa, mas o quintal. O quintal era grande e cheio de árvores frutíferas, como já dissemos aqui, e terminava lá no córrego Vieira, que naquela época era límpido e atualmente recebe o esgotamento da cidade. Hoje encontrei entre os guardados uma foto parcial da frente da casa. Publico-a, juntamente com este texto, para que ninguém possa achar que invento as histórias. É tudo verdade. Basta dar uma espiada na foto e me procurar. Estou sentado bem na porta, e à exceção de minha irmã, Wanda, sou o único que olho para o fotógrafo sorrindo. Na foto se vê José Venâncio apoiado numa pilastra, tendo à frente a inseparável bicicleta. Essa pilastra tinha papel importante. Servia para as pessoas amarrarem os animais enquanto cumpriam visitas. A calçada era alta e para entrar na sala, vindo da rua, era preciso subir cinco degraus. Além do Zé e da Wanda estão na foto Ladinha, Tone (do meu lado direito), uma criança em pé, que não sei quem é; e Ricardo, um sobrinho, que vem chegando seguro na mão de alguém escondido pela pilastra. A pessoa que está sentada, do lado direito da foto, se não me engano, é ‘Filó’, Filomena Fialho, irmã de Nice. Já falecida, ela era violonista de mão cheia. Toda vez que espeto com o garfo um grão de feijão, na hora das refeições, lembro-me de Filó. Ela, inapetente, comia devagar. Espetava um a um os grãos de feijão, só para dizer que estava comendo alguma coisa. Muito tempo depois, já distante de Montes Claros, aproveitei uma das idas à cidade para verificar, in loco, se a casa ainda existia. À medida que me aproximava da casa o meu coração batia ansioso por, enfim, comprovar as lembranças de menino. Decepção. A casa não existia mais. No lote fizeram uma oficina mecânica. Só a casa de dona América e Afrânio Nogueira estava de pé. Nem a casa de dona ‘Negrinha’, mãe adotiva de Flávio, o meu melhor amigo na ocasião. Vou contar um pouco de dona ‘Negrinha’. Nunca soube o nome verdadeiro dela. Ela era uma mulher baixa, gordinha, simpática que prestava serviços de enfermagem. Principalmente, aplicava injeções em domicílio. Não sei por que cargas d’água, ela me aplicou uma série de injeções. Moleque ainda, nas primeiras vezes eu corria dela. Quando a via entrar em casa, me escondia o quanto podia. E para aceitar que me aplicasse injeção, ela sempre me dava uma moeda de um cruzeiro. Aí, a conversa era outra. Não sei se o dinheiro pertencia a ela mesma. Ou era do meu pai que dava a ela para ela calar a minha boca. Dona ‘Negrinha’ era tão interessante! Ela me prometeu ensinar a empinar papagaio. Um dia, a boa mulher chegou com carretel de linha número 10 e um papagaio feito de varetas de bambu. Bonito, de duas cores, o papagaio subiu facilmente aos ventos – naquela época até ventava – e foi longe. Enquanto o papagaio surfava lá no alto – lembro-me bem disso – ela ficava implicada com a ‘barriga’ da linha e repetia várias vezes: ‘preciso acabar com essa barriga’. Mas não tinha jeito, penso agora, porque a ‘barriga’ era efeito do próprio peso da linha. Lembro-me, como se fosse hoje, de dona ‘Negrinha’ mandando Flávio escovar os dentes. Ele deixava a escova pendurada numa torneira no quintal e mal mal passava-a nos dentes, tamanha ânsia de brincar. Houve um dia em que salvei Flávio de morrer enforcado. Foi assim: brincávamos de Super-Homem e Capitão Marvel. Cada um tinha uma toalha de banho amarrada com cordão em volta do pescoço. A brincadeira era subir em cima do muro por meio de um pé de jabuticaba. Em seguida, cada um tinha de pular num monte de areia, gritando: ‘Superrr-homemmm’ e o outro ‘Capitãooo Marvelll’. Fizemos isto uma vez. Fizemos outra. Mais outra e na última, a ‘capa’ de Flávio se agarrou num galho da jabuticabeira e ele ficou pendurado pelo pescoço. Já estava com a língua para fora quando foi salvo, no último instante, pela força, presteza e eficácia do ‘Superrr-Homemmm’. O pior não foi isto. Flávio havia apanhado escondido a toalha de banho de dona ‘Negrinha’. Ele quase morreu mesmo foi de medo de levar uma surra quando ela descobrisse o rasgo feito pelo galho da jabuticabeira na toalha. Dona ‘Negrinha’ era baixinha, gordinha, simpática, mas era brava como ela só! Ela e a minha mãe.

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