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montesclaros.com - Ano 25 - sexta-feira, 3 de maio de 2024
 

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Mensagem: Adeus, Hermes! (Ao ensejo de sua morte, em junho de 1983) Você se foi, Hermes, ou talvez levaram-no. Pois, amando esta terra como você amou, é difícil de se acreditar que a tenha deixado por sua própria vontade. Eu sei, todos nós sabemos como era puro seu amor e que o seu coração era tão grande que nos parecia impossível caber dentro do peito! Você nasceu aqui, Hermes, e aqui viveu uma vida inteira de dedicação e amor! Você cresceu junto com esta terra, acompanhando seu desenvolvimento, passo a passo, auscultando seu coração para sentir de perto todas as pulsações, toda suas histórias, sua luta, alegrias ou tristezas, vibrando com suas vitórias e chorando suas derrotas! Você amou esta terra como filho e como pai. Como filho, quando se agarrou a ela, tal qual uma criança à barra da sai de sua mãe, querendo-a junto de si, amando-a, sentido-a dentro do peito, num desejo de não abandona-la, sentindo que não poderia viver sem ela ou longe dela. Respeitando-a no que é de mais sagrado: sua história e sua gente. Como pai você foi o mais amoroso e dedicado, aquele que quer o melhor para seu filho. Você sonhou, Hermes, a vida inteira, procurando transforma-la numa cidade civilizada, alegre, feliz, de gente amiga, de coração sincero. E, por isto, você lutou demais! Você queria, Hermes, que todos fossem iguais a você... Em todos os setores, você cooperou com a comunidade; na política, artes, música, educação, saúde, parte social e econômica. Em todas essas áreas você deixou a marca indelével dos seus passos! Seu desprendimento pelas coisas materiais era o traço característico do seu belo caráter. Tudo fazia sem, um instante, pensar em remuneração. Como poderemos esquecê-lo? Jamais. Você fez e é a própria história de Montes Claros. Na sua profissão, você foi realmente o médico e a quantos socorreu, nos momentos mais difíceis, não medindo sacrifícios, sem pensar em receber nada em troca!? Você foi o verdadeiro São Francisco, principalmente para os mais pobres, levando-lhes a esperança, a paz e a alegria. Hoje, eu sei, eles choram por você e lastimam o que perderam. A seresta que você idealizou e realizou com tanto sucesso, e que levou nossa música e o nome de nossa terra a lugares longíquos, perpetuará para sempre sua memória, lembrança e saudade. Serão estímulos e inspiração para os companheiros prosseguirem o que você começou. Como professor, durante muitos anos, você foi o melhor amigo dos seus alunos, auxiliando e incentivando-os. Hoje se lembrarão de você, cheios de saudade e gratidão. Os humildes catopés a quem você sempre deu tanta força, admirava-os e protegia-os, neste instante, nas batidas sonoras de seus tambores e na sua música singela e tão bonita, estão em pranto, Hermes! E os corações estão sangrando! Os marujos, nobres guerreiros, representando uma época remota de lutas do passado, valentes soldados do mar, também estão aqui ao seu lado, deixando toda altivez que representam, para chorar conosco sua falta. Aí está todo seu folclore, Hermes. O folclore que durante anos você sonhou, você levantou e conseguiu realizar em nossa cidade! Hoje temos nossa história, nosso folclore é conhecido e respeitado, graças a você. Todos choram, Hermes. Todos vieram vê-lo pela última vez. E repare como sua casa está cheia! As salas, as varandas, o pátio, os jardins. Tudo como você gostava, flores por toda parte! A cidade está de luto. Você está impassível, frio e inerente, difícil de se acreditar! Mas, nós todos sabemos que seu coração não está indiferente a esta manifestação de pesar, de todos que o amavam e jamais o esquecerão. Ele deverá acordar e, como um milagre, baterá pela última vez num adeus a esta terra e sua gente que você tanto amou. Toda cidade, Hermes, chora com sua família e sabe que a lacuna que você deixou jamais poderá ser preenchida. O que você constituiu para nossa cidade é um tesouro sagrado que saberemos preservar. Você, Hermes, será a história bonita que haveremos de contar para nossos filhos, nossos netos e que nenhum montesclarense poderá desconhecer. Adeus, Hermes! É chorando que eu também me despeço de você, nesta hora triste. Você foi um parente, um amigo, um protetor, um pai, não só para mim, mas, para todos que tiveram a felicidade de conhecê-lo e de amá-lo. Adeus, Hermes! Que a música de que você tanto gostava e espalhava seja entoada pelos anjos na corte celestial, e o amor que você distribuiu na terra seja o passaporte para sua entrada triunfal no paraíso. (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 94 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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