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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 21 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Chico Pitomba e Mané Juca A famosa rua 15, hoje Presidente Vargas, estava muito movimentada de curiosos e interessados no grande acontecimento. A banda de música local, executava os dobrados costumeiros, ensaiados para as grandes festividades políticas e sociais. As moças, numa alegria contagiante, desfilavam muito embonecadas naquela movimentada rua, espalhando charme e beleza, com olhares melosos e provocantes aos guaipos rapazes de prontidão nas esquinas. Tudo era alegria naquela noite em que a grande atração do momento era a ZYD7, Rádio Sociedade do Norte de Minas. A população minguada, da pequena cidade com menos de quinze mil habitantes, aproximadamente, aguardava cheia de entusiasmo (população urbana). Inaugurava-se naquela noite de 05 de março de 1945, os novos estúdios da ZYD7 (suas ondas com 250 wats de antena) localizados no edifício Maria Souto, na Rua 15, hoje Edifício Jabbur. Jair Oliveira, o dinâmico jornalista, era o diretor proprietário da importante emissora montes-clarense, que até então funcionava precariamente na Rua Governador Valadores, 223, no antigo prédio do extinto Cine Renascença, onde é hoje o cine Montes Claros. Após a bênção da emissora, por sua excelência reverendíssimo bispo de Montes Claros, Dom Aristides de Araújo Porto, foi iniciado o esperado programa de irradiação que abalou toda a cidade, e que durante muitos anos encantou aquela população simples e ávida de emoções. Às dezoito horas, impreterivelmente, a luz chegava preguiçosamente, e os estalos estridentes de rádios mal sintonizados nos davam sinal de que o programa estava no ar. Gente que era gente possuía o sue radinho e, com euforia, escutava a voz forte do radialista Marcos Alexandre, o locutor da emissora. O programa era bem elaborado, e agradava em cheio a população. Ainda me lembro bem de Melodias de Outrora (que nada ficava devendo ao grande programa Hora da Saudade da Rádio Inconfidência de Minas Gerais, Belo Horizonte, nos anos quarenta). Ouvíamos as canções melodiosas, as modinhas sentimentais, na voz bonita de Ceci de Alencar, pseudônimo de Maria Inês Mariello, num bom bolado dueto com Antônio Rodrigues, grande violinista da época. Neste mesmo programa, o Geraldo Prates era hábil apresentar, fazendo interessantes comentários, ouvíamos também as vozes bonitas das senhoras de fina flor da nossa sociedade: Neuza e Argentina Dias, Edith Leão, Sílvia dos Anjos, Marinha Prates, Zélia de Oliveira Miranda. Eunice Fialho marcou época com sua voz maravilhosa, começando aqui a sua carreira artística, sendo mais tarde contratada pela Rádio Inconfidência de Minas Gerais, chegando a ser coroada Rainha do Rádio. As irmãs Lucrécio Também fizeram furtos nas vozes bonitas de Alda, Normanda e Fely Lucrecia, formando o trio sentimental de grande categoria. Abrilhantavam este programa, Nivaldo Maciel, Wilson Maldonado, Edgar Camargos, com vozes excelentes, acompanhados por Godofredo Guedes e o conjunto Oswalto Lagoeiro, Augusto de Freitas e Sabur. A ZYD7, se esforçava para agradar o público e periodicamente contratava artistas de fora para shows, sendo que Nivaldo Maciel fazia a abertura do mesmo. E assim, tivemos oportunidade de ver e ouvir de perto: Luiz Gonzaga, Nelson Gonçalves, Emilinha Borba, Dalva de Oliveira, Gregório Barrios (argentino) que numa de suas vindas a Montes Claros encantou com a voz de Nivaldo Maciel, convidando-o para substituí-lo um mês no seu programa El Mundo na Argentina enquanto ele permanecesse no Brasil. Mas, Nivaldo não aceitou, o bairrismo era demais. A criançada de Montes Claros também tinha a sua vez no programa Guris em Desfile com concursos, prêmios e tudo mais, dando oportunidade aos calouros infantis, bem sucedidos da nossa cidade, assim como João Leopaldo e Adélia Mianda, que fizeram sucesso. Foram a revelação daquele tempo, de criança, e ainda hoje os dois brilham na Seresta João Chaves. Alma cabocla era o grande e excelente programa caipira com os dois maiores cômicos da época: Chico pitomba e Mane Juca. Neste horário, ajuntava muita gente nas esquinas para ouvi-los e principalmente na Casa Lotérica de seu Donato Quintino (Rua 15 com Simeão Ribeiro) era o ponto fino dos curiosos ouvintes assíduos, pra comentários e críticas do programa, como os mais entendidos no assunto. Os dois caipiras faziam misérias com suas anedotas e piadas picantes, versos e cantigas sertanejas, arrancando gargalhadas dos mais sizudos montes-clarenses. Hoje, quando vejo programas sertanejos de grandes emissoras do nosso País, de cômicos de alto gabarito, fico a pensar em nossos jecas Chico Pitomba e Mane Juca... Como se esforçavam para o sucesso da tradicional e antiga emissora. Como artistas, eles nada deviam aos grandes de hoje. Eram naturais, realmente sertanejos, sem sofisticação, com total vivência do meio ambiente do sertão! Eram devotados, trabalhavam por amor, sem nenhuma remuneração, desejando apenas o sucesso da ZYD7, recém-inaugurada. O Mane Juca (Antônio Rodrigues) quem não o conheceu? Fora do palco era, também, alegre e folgazão e nas festas um tremendo pé de valsa. Seresteios de nascimento, cantador de modinhas nas noites enluaradas (quando solteiro) conquistava facilmente as donzelas com sua bonita voz (Célia que o diga), tendo sempre uma anedota ou uma piada nova, que tornava sua companhia muito agradável. Era comerciante e dava um duro no balcão, mas quando chegava a tardinha ninguém o segurava (nem a Célia com toda sua diplomacia e os truques para prender marido em casa...) e, à noitinha o botão da ZYD7, lá estava o artista com suas interessantes piadas. Por vezes tínhamos a impressão de que, realmente estávamos diante dos próprio matuto, com sua voz pausada e palavras vindas do coração sertanejo puro, autêntico, deixando extravasar toda emoção contida no mais íntimo de sua alma, apaixonada e sentimental. Aí vinha as lembranças, a saudade, nas canções cheias de amor e humor sertanjeo. Os anos passavam. A emissora crescia em tamanho e em qualidade, mas Chico Pitomba e Mane Juca se despediram da rádio e dos ouvintes, deixando um grande vazio no programa e na cidade. Chico Pitomba, com sua saúde abalada, se retraiu para melhor concentrar-se no livro que pretendia escrever e que por sinal, realizou com grande sucesso. Entretanto, não podemos esquecer de que, parte deste sucesso ele deve aos modestos e mais dedicados artistas dos anos 40, que com entusiasmo, amor e desprendimento pela cifra, foram um marco na trajetória brilhante deste importante e tradicional e emissora Rádio Sociedade do Norte de Minas ZYD2263. O Chico Pitomba (Cândido Canela) o nosso grande e imortal sertanejo, inconfundível e inigualável, fora do palco era retraído, chegando mesmo a timidez. Mas no rádio era uma revelção com seu estilo humorístico, dando rédeas à sua veia, sucesso elogiados pelos maiores críticos. Mane Juca mudou-se para Belo Horizonte, ciladas do destino. Foi viver mais intensamente para a mulher, filhos e netos (é o verdadeiro vovô coruja) mas continua o mesmo Antônio, alegre, comunicativo, contanto suas anedotas e piadas (na intimidade), jogando buraco. Sob qualquer pretexto ele pega o violão e sonha!Sonha com o passado, transmitindo ao violão amigo as suas mágoas, suas alegrias e tristezas. É um grande saudosista. Sente saudades daquele tempo em que os compradores Chico Pitomba e Mane Juca fizeram sucesso e marcaram época em nossa cidade. Era, sem dúvida, os maiores, sem rivais, e nos deram horas alegres, quando desconhecíamos ainda o Chico Anísio e O Gordo... Mas eles eram diferentes, eram regionais, qual o pequi, eram nosso! Deixo aqui um voto de louvor aos dois maiores cósmicos que conheci. A ZYD7 dos anos 40 é hoje a Rádio Sociedade do Norte de Minas Ltda., ZYD2263, esta grande potência que, aí está aos nossos olhos, modernamente equipada, levando o progresso, civilização a alegria a grande distância, sob a atual direção do dinâmico Elias Siuf, que com sua grande inteligência, tino administrativo e capacidade de trabalho, tem conseguido o grande sucesso desta emissora. (N. da Redação: Ruth Tupinambá Graça, de 94 anos, é atualmente a mais importante memorialista de M. Claros. Nasceu aqui, viveu aqui, e conta as histórias da cidade com uma leveza que a distingue de todos, ao mesmo tempo em que é reconhecida pelo rigor e pela qualidade da sua memória. Mantém-se extraordinariamente ativa, viajando por toda parte, cuidando de filhos, netos e bisnetos, sem descuidar dos escritos que invariavelmente contemplam a sua cidade de criança, um burgo de não mais que 3 mil habitantes, no início do século passado. É merecidamente reverenciada por muitos como a Cora Coralina de Montes Claros, pelo alto, limpo e espontâneo lirismo de suas narrativas).

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