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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 22 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Tendepá Alberto Sena ‘Gerinha Português’ morava no sobrado na esquina das ruas Afonso Pena e Padre Augusto. Gilson Peres – o ‘Gilson Capeta’ – morava na Rua Dr. Santos. Os dois davam condimento picante a Montes Claros daquela época. O primeiro era dotado de mais idade. Tinha o costume de cumprimentar assim: ‘olá, meu chapa’! O habitat dele, de Valdeci (Cici) Santamaria, filho de Neco Santamaria, figura lendária da política montes-clarense, que tinha um olho de vidro; e outros, que faziam parte da patota comandada por ‘Gerinha’, era ali na esquina das ruas Presidente Vargas, antiga famosa ‘Rua Quinze’, e Simeão Ribeiro, no centro de Montes Claros, onde funcionava a loja dos portugueses João e Antônia Ramos. Hoje é uma loja de roupas, segundo me informa Zé Venâncio, da Lavanderia Asteca, meu irmão. Quando o relógio dava oito horas da noite, era passar por ali e lá estavam a postos ‘Gerinha’ e Cia. Às vezes, eles se sentavam na porta da loja de Jabbur, em frente, e ficavam ali horas a fio em conversas. Cici tinha o costume de ler palavras de trás para frente. Não só palíndromos. Ele gostava de brincar com as palavras de modo geral. Talvez fosse obcecado por isso. A toda mão, tinha de ler palavras de trás para frente. As pessoas o achavam ‘meio alguma coisa’ por causa disso. Nós não tínhamos convivência. Mas o fato de estarmos por ali também, próximos, acompanhados de amigos outros, numa noite ouvi Cici dizer: ‘comigo tudo tem hora marcada’. Todo dia, quando o relógio badalava meia-noite, era hora dele se sentar no trono para dar vazão à vida. Achei interessante essa disciplina. E foi a partir daquele momento que descobri: ‘Cici tem razão’. Descobri que, ao contrário dele, a melhor hora para dar vazão à vida é de manhã, logo cedo, ao despertar. Tudo depende do que se come. Como dizia um velho deitado à beira do caminho: ‘diga-me o que você come e lhe direi como vai a sua saúde’; intestinal, por exemplo. Retomando o fio inicial, lembro-me como se fosse hoje do quanto ‘Gerinha Português’ ficou bravo porque ‘O Jornal de Montes Claros’ publicou notícia dos tiros que ele dera de dentro de um carro, na noite anterior, saindo de uma festa. Foram tiros para o alto. Imaginem: naquele tempo, tiros disparados para o alto por ‘Gerinha’ eram notícia no jornal. Quanta diferença, comparados com a atualidade, quando tiros disparados contra alvos certos matam jovens na cidade quase todo dia. Hoje, imagino, ‘Gerinha Português’ escreve as memórias sobre o jeito James Dean de ser naquela época de Montes Claros cidade pacata. E por falar em James Dean, fisicamente, ‘Gilson Capeta’, sim, estava mais para o tal do que ‘Gerinha Português’. O ‘Capeta’ tinha cabelos loiros e um jeito de andar que dava a ele mais semelhança com o ator de ‘Juventude Transviada’. Um dia de manhã, ia comigo mesmo rumo ao trabalho, ali na Rua Dr. Santos, 103, onde hoje é o prédio da Caixa Econômica Federal, e ‘Capeta’ me chamou para acompanhá-lo até a vila atrás da casa velha onde funcionava ‘O Jornal de Montes Claros’. Havia uma entrada da largura de uma garagem, e lá dentro da vila devia haver, se não me engano, pelo menos três casas. Entrei com ele na vila. Qual não foi a minha surpresa ao ver um jovem como nós mesmos, assustado, chorando, diante de uma das casas. Ele chorava antecipadamente, porque ‘Capeta’ tinha certa ascendência sobre o rapaz – foi o que pude concluir – e lhe dissera antes: ‘espera, vou buscar uma testemunha’. Coincidência eu ter passado na hora. ‘Gilson Capeta’ queria testemunha para a sova que ele, armado de cabo de aço, daria no rapaz. Mas o coitado chorava tanto! ‘Capeta’ só teve tempo de enrolar o cabo de aço na cintura do cara uma vez e puxar em seguida. À distância, surpreso com o que testemunhava, a única coisa que pude fazer para auxiliar o jovem foi pedir: ‘deixa disso rapaz’! E ele deixou com certo sorriso James Dean de ser no rosto. Dias depois, indo aos ‘Morrinhos’, o tal que quase foi açoitado por ‘Capeta’, acompanhado de outro, me cercou. Queria desforrar, como se eu tivesse culpa de ter sido, sem querer, testemunha ocular do aperto por ele passado naquele dia. Nem queiram imaginar o tendepá que foi.

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