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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 22 de setembro de 2024
 

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Mensagem: Preparativos para o Baile da Primavera Passou a infância... Passou a juventude – mas a vida não passou. Passou o 1º amor... Passou o 2º amor... E o coração continua... E o coração da mocinha continua ingênuo, jovem e quase sempre ele se perde em devaneios. Neste inverno de dias quentes, princípio de Setembro, depois de um agosto incandescente, o odor do vento do sertão trouxe o cheiro do jasmim que perfumava aquele lado da casa quando o luar se abria. E Setembro chegava trazendo a primavera. Com ela o mais esperado baile do ano: o Baile da Primavera, no Clube Montes Claros. A memória é tenaz. A minha está sempre me cutucando, inunda a mente de pessoas, fatos, acontecimentos, lugares. Oh! Ilusões da mocidade, vocês jamais perderam suas doçuras. E a mocinha se lembrou dos preparativos para o esperado baile de setembro. Que tal uma viagem aos anos da inocência? Num país ainda não industrializado, onde não existia cosmetologia e nem consumo, ficar bonita era um trabalhão. Adicionado a esse contexto, não tínhamos dinheiro para comprar os produtos de beleza. Assim começava o périplo. Para afinar e clarear a pele usávamos fubá misturado com açúcar cristal e após retirá-lo com água gelada, usar uma máscara de pepino e mel de abelha. Para os cabelos, se os queríamos avermelhados, exaguá-los com chá de casca de cebola roxa, ou para clareá-los usar chá de camomila. Como hidratante recorria ao “Ponds C” de mamãe, que sempre acabava mais rápido do que ela planejava. Esses cuidados eram feitos semanalmente. Quem podia comprar shampo, usava o “mulsifild” perfumado; quem não podia se virava com o sabão de côco ou o lever. Para prender os cabelos, a cerveja branca era o indicado, armava e segurava os cachos feitos com bobs e o laquê complementava o efeito. Lembro-me de um produto criado pelo farmacêutico Aluisio Ferreira Pinto,da conceituada Farmácia Central, semelhante à famosa “Antisardina”, era mais suave e a pele ficava linda. Só que o sucesso foi tão grande, que a farmácia não dava conta de manipulá-lo. Dizem que “Seu” Aluisio se arrependeu de sua criação, pois ele não saía do laboratório para atender à demanda que aumentava a cada dia. A dermatologia cosmética estava engatinhando, e nós nos contentávamos com o que existia. Também com os hormônios em dia, plenas de juventude, rugas estavam a milênios de distância. Como era primavera, e primavera no Brasil é sempre quente, usar meias era inconcebível. Então recorria à minha mentora a querida Tia Tê, que usava um produto nas pernas chamado “Perlit”, que dava às mesmas um tom beje rosado. Nada melhor na vida do que esperar pelas festas. Na véspera do baile reuníamos no alpendre de minha casa para fazermos as unhas. Todas tínhamos aquele estojo de manicure – era o presente padrão dos namorados – e a expectativa para o baile nos dava aquela sensação deliciosa de plenitude... Chegava a noite tão esperada. Vestidos vaporosos, decotados, a maioria estampados, nos transformavam em cinderelas. No rosto usávamos o pó compacto “Angel Face”, rouge royal briar, baton “Van Ess”, “Helena Rubstein” ou “Michel”. As sobrancelhas eram aumentadas com o lápis crayon, e os olhos amendoados com o charmoso risquinho. Célia Colares, com seu tipo eurasiano, causava inveja nas amigas com seus olhos bem maquiados. Dava o maior “It”. Flor de maçã, Miss France, Bond Street, Whitemagnólia perfumavam o corpo e os sonhos. E lá íamos nós, envolvidas por uma auréola de encantamento. Geralmente no baile de primavera, vinham orquestras de Belo Horizonte e transformavam aquelas horas num tempo mais que perfeito. Aquele momento criava um clima de desejo: olho no olho, mão na mão, a respiração suave que arrepiava todo o corpo; as confissões murmuradas ao pé do ouvido, enquanto aspiravam um perfume sutil. Esses momentos jamais acabarão. É uma conquista da emoção. Sempre que recordo essas encantadoras experiências vividas, me vem o pensamento consolador de que elas integram para sempre o espírito, fazem parte da essência e ninguém conseguirá apagá-las. Recolho a mocinha adolescente que mora no meu coração e deu uma fugida aos anos dourados. Às vezes não consigo segurá-la e ela sai à procura dos dias felizes e ingênuos que vivi num mundo romântico e cheio de segredos.

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