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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 23 de setembro de 2024
 

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Mensagem: PERSONALIDADES E PERSONAGENS FOLCLÓRICAS Toda antiga e pequena cidade que se preza tem suas personalidades e personagens folclóricas. Monte Azul não poderia ser diferente. Classifico como personalidades porque são pessoas reais, com as quais convivi, e, ao mesmo tempo, como personagens porque essas pessoas viviam como se fizessem parte do elenco de uma peça teatral chamada vida. Ainda bem pequena conheci as três primeiras personalidades folclóricas das quais me lembro: Tutano, Noemia e Cota. Moradores do bairro Esplanada, não sei se tinham parentesco por consangüinidade, nem se residiam na mesma casa, mas formavam um trio inseparável. Onde um se encontrasse, lá estariam os outros dois. Dizem que a relação era um triângulo amoroso perfeito. Jamais houve brigas por causa de ciúmes. Contava meu sogro, “Seu” Afonso, que há muitos anos atrás, quando ele exercia a função de fiscal da prefeitura, entre as suas atribuições estava a de verificar o trabalho dos varredores de ruas, devendo informar ao setor responsável sobre o comparecimento, a assiduidade, a pontualidade e o desempenho de cada funcionário. Só esclarecendo, naquele tempo não se dava a essa função o nome de gari. Em certa manhã, tendo percebido que Tutano já se ausentava do trabalho há três dias consecutivos, sem justificativas, e seus colegas de trabalho não sabendo informar o que acontecera, “Seu” Afonso se dirigiu até o bairro Esplanada imaginando se Tutano estaria doente ou de ressaca, já que tomar umas e outras era um hábito seu. Chegando na casa de Tutano, “Seu” Afonso foi informado, por Noemia, que o marido se encontrava no entroncamento. Entroncamento era o nome dado pela população local ao encontro das pessoas que chegavam do Nordeste, desembarcando do trem vindo pela Rede Ferroviária Leste com as pessoas que vinham do Sudeste, desembarcando do trem vindo pela Central do Brasil. Procurado, Tutano respondeu que não queria mais o emprego, pois nos três dias em que faltara ao trabalho estivera pedindo esmolas no entroncamento e havia ganhado mais do que o salário de um mês pago pela prefeitura. E assim encerrou-se a carreira de servidor público de Tutano e iniciou-se a de pedinte profissional. Durante toda a minha infância e adolescência o programa de final de tarde, aos sábados, era assistir ao espetáculo que o trio apresentava na praça, em frente à Igreja Matriz, depois de passar o dia no mercado, pedindo esmolas e bebendo umas e outras. Os papéis eram bem definidos: Cota cantava, enquanto Tutano e Noemia dançavam. Anos mais tarde, eu já adulta e com filhos já crescidos, Tutano faleceu foi e enterrado como indigente. Nada de cruz personalizada e muito menos placa de bronze. Conta Dona Geralda, mãe de Dr. Murilo, que em visita ao cemitério de Monte Azul, a sepultura de finado Liu, se encontrava repleta de coroas de flores, de todas as cores e tamanhos. A certa altura, Noemia se apoderou de uma coroa, uma das maiores, e se dirigiu para a sepultura de Tutano. Sendo repreendida pelas pessoas presentes, que lhe disseram pra devolver a coroa, pois pertencia a outro defunto, Noemia retrucou: “Não pode é ele com tantas, e Tutano sem nenhuma.” Pensando bem, tem lógica! Personalidades assim, verdadeiras personagens folclóricas de uma cidade, jamais deveriam ser enterradas sem identidade, como se não fizessem parte da história local.

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