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Mensagem: Lembranças renovadas Roberto Elísio A oportunidade de um reencontro no último fim de semana com alguns queridos amigos de Montes Claros trouxe-me à memória duas figuras inesquecíveis daquela simpática cidade do Norte de Minas: o saudoso médico Mário Ribeiro, de quem guardo as melhores lembranças, e o também saudoso jornalista Hermenegildo Chaves - o Monzeca - ao lado de quem trabalhei por quase 20 anos, na velha redação do jornal ´Estado de Minas´, no tradicional número 36 da Rua Goiás. Mário, um exemplar ser humano, um idealista incorrigível. Monzeca, que era simples como a verdade, escritor e poeta, o texto mais puro que conheci ao longo de muitos anos de exercício na imprensa. Estilo primoroso, um mestre da palavra escrita. Como tive - e tenho, para minha alegria - muitos amigos nascidos em Montes Claros, as recordações foram inevitáveis. Como dizia a frase de apresentação de um antigo programa de rádio, ´uma viagem ao passado nas asas da saudade´. Alguns deles já se foram, como o próprio Mário e o seresteiro, poeta e repentista João Vale Maurício. Muitos, felizmente, continuam ilustrando a cidade, à qual Maurício se referia como ´o coração robusto do Sertão´. O sempre ameno Manoel Hygino dos Santos, companheiro neste HOJE EM DIA e integrante da Academia Mineira de Letras, é um deles: Paulo Narciso, jornalista e cultor irreversível de valores espirituais, outro destaque, como o ex-deputado Antônio Dias, que cultiva o norte-mineiro como um agricultor de outros tempos cultiva carinhosamente a lavoura dos seus sonhos. O advogado e também poeta Augusto Bala Doce alinha-se na mesma referência sentimental. Lola Chaves, sobrinha de Monzeca e filha do grande compositor João Chaves - o imortal autor de ´Amo-te muito´ - dedica-se em preservar a tradição e o encanto das serenatas. O jornalista e escritor Carlos Lindenberg, nascido em Espinosa, é autêntico montes-clarense por direito de conquista, a exemplo do também escritor, poeta e repentista Luiz de Paula, nascido em Várzea da Palma. Montes Claros, como a minha doce e suave Santa Luzia, não é apenas uma cidade. Mais: é um estado de espírito. Do velho e muito estimado Monzeca guardo algumas histórias deliciosas, mescladas de ironia e de lirismo. Certa vez, numa dessas rodas que se fazem nas redações após o término do expediente, dona Oswaldina Nobre, que era a única mulher entre os jornalistas de então, comentava, pesarosa, a cassação dos direitos políticos do ex-presidente Juscelino Kubtscheik: ´E estou com muita dó do Juscelino, coitado´. Monzeca, ao lado, não se conteve: ´Engraçado esse mundo. Juscelino mora num belo apartamento em Paris, consta que tem outro nos Estados Unidos, foi prefeito de Belo Horizonte, governador de Minas e presidente da República. Eu nunca consegui ser nem vereador em Montes Claros. E a Oswaldina está em dó é do Juscelino´. E foi andando, com seu passinho manso. (O jornalista Roberto Elísio, nascido em Santa Luzia, foi Editor de Política e Diretor de Redação do jornal Estado de Minas)
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