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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 7 de outubro de 2024
 

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Mensagem: Para complementar o que ensinou Isaías, para o fim geral a que se destina, envio o poema cuja leitura ele nos sugeriu. Leiamos juntos, de pé, em voz alta: Apelo Aos Dessemelhantes - Carlos D. A. Ah, não me tragam originais para ler, para corrigir, para louvar sobretudo, para louvar. Não sou leitor do mundo nem espelho de figuras que amam refletir-se no outro à falta de retrato interior. Sou o Velho Cansado que adora o seu cansaço e não o quer submisso ao vão comércio da palavra. Poupem-me, por favor ou por desprezo, se não querem poupar-me por amor. Não leio mais, não posso, que este tempo a mim distribuído cai do ramo e azuleja o chão varrido, chão tão limpo de ambição que minha só leitura é ler o chão. Nem sequer li os textos das pirâmides os textos dos sarcófagos, estou atrasadíssimo nos gregos, não conheço os Anais de Assurbanipal, como é que vou - mancebos, senhoritas, -chegar à poesia de vanguarda e às glórias do 2.000, que telefonam? Passam gênios talvez entre as acácias, sinto estátuas futuras se moldando sem precisão de mim que quando jovem (fui-o a.C., believe or not) nunca pulei muro de jardim para exigir do morador tranqüilo a canonização do meu estilo. Sirvam-se de exonerar este macróbio do penoso exercício literário. Não exijam prefácios e posfácios ao ancião que mais fala quando cala. Brotos de coxa flava e verso manco, poetas de barba-colar e velutínea calça puída, verde: tá! Outoniços, crepusculinos, matronas, contumazes: tá! O senhor saiu. Hora que volta? Nunca. Nunca de corvo, nunca de São-Nunca. Saiu pra não voltar. Tudo esqueceu: responder cartas; sorrir cumplicemente; agradecer dedicatórias; retribuir boas-festas; ir ao coquetel e à noite de autógrafos-com-pastorinhas. Ficou assim: o cacto de Manuel é uma suavidade perto dele. Respeitem a fera. Triste, sem presas, é fera. Na jaula do mundo passeia a pata aplastante, cuidado com ela! Vocês, garotos de colégio, não perguntem ao poeta quando ele nasceu. Ele não nasceu. Não vai nascer mais. Desistiu de nascer quando viu que o esperavam garotos de colégio de lápis em punho com professores na retaguarda comandando: Cacem o urso-polar, tragam-no vivo para fazer uma conferência. Repórteres de vespertinos, não tentem entrevistá-lo. Não lhe, não me peçam opinião que é impublicável qualquer que seja o fato do dia e contraditória e louca antes de formulada. Fotógrafos: não adianta pedir pose junto ao oratório de Cocais nem folheando o álbum de Portinari nem tomando banho de chuveiro. Sou contra Niepce, Daguerre, contra principalmente minha imagem. Não quero oferecer minha cara como verônica nas revistas. Quero a paz das estepes a paz dos descampados a paz do Pico de Itabira quando havia Pico de Itabira a paz de cima das Agulhas Negras a paz de muito abaixo da mina mais funda e esboroada de Morro Velho a paz da paz.

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